- Han, han! – exclamou a voz, que parecia não acreditar no que via ou não via.
- Mas onde estou? Que lugar é esse? Como eu vim parar aqui? Ao menos deve haver uma saída desse lugar, mas não escuto nada além de um vento por entre as árvores. Mas com essa escuridão total, vai saber se são árvores mesmo.
O local era totalmente escuro, não se enxergava um palmo diante do nariz. Aquele instrumento antigo e de bastante utilidade, chamado fósforo, viria muito bem a calhar naquela hora. Ao menos unzinho, nem que fosse para ver o que estava por perto ou para dar o ar de alegria em saber se estava certo de que estava no meio do bosque. Nada, não podia fazer nada a não ser esperar a luz aparecer. Essa era a hora de esperar o que estava por vir. De repente, ouviu-se alguém assobiando e cada vez chegando mais perto. Um assobio firme, forte e bem entonado. Parecia de alguém que sabia exatamente a canção que desejava cantarolar, mas não sabia a letra. E o zunido ia chegando mais e mais perto.
- Ai, que isso?!? Espero que ele esteja me vendo, porque se eu não posso olhar nada ao meu redor, dependendo do tamanho da pessoa, pode me fazer em pedacinhos aqui. – dizia, a voz com ar de desconfiança. - Aliás, como alguém pode assobiar tão tranquilamente, sem medo de tropeçar em nada? Eu, hein, estou começando a achar que estou num sonho. Não importa, o negócio é aproveitar a oportunidade e ver se ele pode me ajudar.
Sem pensar muito, a voz começou a gritar bem alto.
- Socorro! Socorro! Está me ouvindo? Preciso de ajuda!!! Socorroooo!
Já perdendo o fôlego, sem muito a esperar, a voz achou que o indivíduo que assobiava, já não podia mais atendê-lo. Foi quando, de repente:
- Ora, mas o que vemos aqui? Um jovenzinho perdido no meio da selva, em plena luz do dia. – disse o cavalheiro, estupefato com o estado daquele jovem - Valha-me, Deus, como é que você consegue uma proeza dessas? Rápido, levante-se e vamos sair daqui, agorinha mesmo isso aqui vai ficar bem perigoso, rapaz.
Não acreditando no que ouvia, o rapaz buscou enxergar alguma coisa e com uma voz não amistosa, já foi querendo tirar suas conclusões, que naquela hora não pareciam muito favoráveis:
- Plena luz?!? Como assim, plena luz?!? Não consigo enxergar nem sequer a ponta do meu nariz, quem dirá achar a saída deste lugar. Então estava certo, isso aqui é uma floresta. Mas quem é você? Onde você está que não te vejo? Me larga. Tira essas mãos de mim. Pra onde está me levando?!? – disse irritado.
- Ora, ora... – disse com um sorriso - há minutos atrás clamava por socorro, e agora não precisa mais de mim? Pelo visto teremos muito o que conversar quando te tirar de dentro desse saco. Afinal, como é que você foi parar ai dentro? – Dizia a pessoa, já desamarrando o saco em que se encontrava o rapaz.
E quando terminou o ultimo nó, deparou-se com um jovem rapaz, com seus dezesseis ou dezessete anos... não mais que isso, devido a sua voz semi-tonada e pelas espinhas que cobriam seu rosto. Cabelos loiros, olhos castanhos claros, pele bem branca, de quem não pega sol pelo menos há uns, sei lá, desde que nasceu. Suas roupas eram muito simples: uma bermuda vermelha, com algumas listras cinzas, dois botões para prender na cintura e a perna ia até os joelhos. Vestia uma camiseta branca, toda branca, mas tinha uma mancha vermelha no ombro. A princípio acharam que era sangue de algum machucado, mas constatou-se pelo cheiro que era resultado do katchup do último cachorro-quente. Como ela foi parar nos ombros dele, isso ninguém soube explicar. Mas primeiro queria saber como ele foi parar ali. Já tentando se recuperar do susto, o rapaz esfregou os olhos e tentava se acostumar com a claridade que ia entrando tão fortemente em seus olhos, que por um momento ele preferiria estar dentro daquele saco de novo.
- Então era por isso que estava tudo escuro. Nossa você me ajudou mesmo. Mas, vem cá, quem é você? Ou melhor, o que é você?!? – disse o menino, dando alguns passos para trás, percebendo a enorme criatura que estava a sua frente.
- Prazer, meu nome é Alex. Alex Cuinter. Sou o lenhador oficial do Reino. – disse, estendendo sua mão que aliás, estava mais parecido com uma garra.
Alex era algo muito diferente do que já se viu. Não era uma mistura, ao mesmo tempo que era tudo misturado. Sua altura era do tamanho de um armário, desse de uns dois metros e meio. Sua mão era gigantesca, nem dava para apertar... segurar no dedo mindinho dele era suficiente e nem se dava a volta direito. Seus olhos eram grandes e vivos e seu nariz acompanhava muito bem o tamanho de suas orelhas. Ao menos estas eram parecidas com as nossas, se tirarmos o lóbulo partido, como se alguém puxasse o brinco de uma mulher e rasgasse sua orelha em dois. Suas pernas eram enormes e seus pés, nem se fala. Agora, uma coisa era certa, o sorriso de Alex era algo cativante, perece que nunca se viu um sorriso como aquele. Apesar de seus dentes, era de se comprovar, o sorriso não vem do que é externo a nós, mas vem da alma. E que alma tinha o Alex.
- Qual o seu nome, rapaz? Ainda não me disse. Exclamou, sorridente, Alex.
- Meu nome é... meu nome é... Que estranho, não consigo me lembrar qual o meu nome. Parece que a única coisa que me lembro é ter tomado o café da manhã e de ter acordado dentro daquele saco. Nada mais... – sua voz ia sumindo, como se tentasse puxar pela memória os últimos instantes até aquele momento.
Num segundo, uma gritaria se aproximava. Gritos de fúria e de agitação invadiam a floresta. Alex, pegou o menino e colocou em suas costas largas e correndo em disparada, nem olhava para trás. Ao tentar visualizar o que acontecia nesta correria toda, o rapaz, virando um pouco a cabeça de lado, tomou um susto ao ver uma flecha acertar o tronco bem próximo dele. Mais e mais rápido eles tentam fugir. Alex coloca toda sua força nas pernas e corre, como nunca correu na vida. E a medida que iam correndo, ouvem vozes aproximando mais e mais, parecia uma multidão enfurecida querendo a todo custo pegar alguém, ou alguma coisa preciosa para eles. Atravessando entre galhos, terrenos pedregosos, raízes capazes de quebrar um pé, se acaso alguém tropeçasse, tentavam a todo custo afastar-se dos perseguidores. De repente, Alex leva um puxão pelo braço.
- Ai, que issooo...! - esta é a última coisa que se ouve de Alex e do rapaz.
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